Cinema

O Justiceiro Netflix

posted by Alf dezembro 3, 2017


Qualquer tipo de linguagem quando transposta para outro veículo que não o original para o qual foi criado, desenvolvido ou inventado, tem que necessariamente passar por uma adaptação, modificada para que se enquadre o melhor possível ao novo veículo e ao novo público a que se destina. Até aí, perfeito.

O problema é quando, por exemplo, uma obra literária é adaptada para a TV ou cinema e passa por adaptações tão além do necessário se torna quase irreconhecível, mantendo apenas uma pequenina essência do que era e nos fazendo duvidar se é mesmo “baseada na obra de”, o que tem acontecido nas adaptações ou “versões” feitas pela Netflix com os personagens da Marvel Comics que, contrariando a expectativa de que as mudanças tenham sido feitas para melhor, infelizmente não conseguiram ou não tiveram a mesma felicidade em suas versões televisivas do que suas contrapartes cinematográficas.

Refiro-me, em especial, à última série cometida pela Netflix, onde seus criadores, produtores, realizadores, criaram a mais enfadonha “versão” do personagem, transformando um rico material existente no mundo dos quadrinhos numa novelinha arrastada e sem sentido.

Imagino que algum “produtor esperto” viu aquela montanha de “Comics” e muito cansado ou sem vontade de se colocar dentro do universo do personagem, empurrou tudo para o armário ou local pior. Leu algumas poucas folhas, sacou seu notebook e desenvolveu essa “versão baseada nos quadrinhos da Marvel Comics”.

O resultado, como já falei, foi uma novela sem sentido sobre um homem traído pelo seu país, com personagens criados para serem arrastados por arcos construídos por vários capítulos e descartados sem muita cerimônia. Ou, ainda: um vai e volta do dito JUSTICEIRO transformado em um pobre, louco e revoltado mendigo, visitando inúmeras vezes a esposa do provável parceiro de vingança num improvável triângulo que acaba resultando em nada. Ou Karen Page, a namorada do outro herói da outra série, que acaba sendo usada como um fraco elo entre as duas séries, mesmo esse elo nunca tendo sequer existido na versão “Comics”, criando aí mais uma “versão de”.

Outra decepção foi a agente Dinah Madani que parece uma barata tonta do começo ao fim da série e que somente nos últimos episódios é conectada ao elenco principal e que parece estar ali somente para que exista mais um nome feminino dentro da novelesca trama e fazer aquelas cenas “fake” de sexo com o personagem Billy Russo, o monstro fantasiado de anjo que em nenhum momento consegue enganar o mais desatento espectador com suas boas intenções.

Há ainda o arco criado para o personagem Lewis Walcott que começa com um transtornado ex-fuzileiro digno de pena, que não encontra seu papel na sociedade atual, e chega ao ápice com a transformação dele num terrorista que retrata uma versão mais radical do próprio JUSTICEIRO. Contudo, como vários outros bons personagens, foi descartado sem mostrar realmente sua finalidade.

Ao analisarmos o enredo, a série ou “novela” parece ter sido desmembrada, com cada argumentista ficando com uma parte e aí, então, nas reuniões de equipe, alinhavaram (mal) o resultado do seu trabalho.

A Netflix não conseguiu abraçar a ideia que está fazendo Histórias em Quadrinhos ou Comics para o público televisivo ou Streaming, então acabam pisando em ovos tendo medo de assumir um lado, ficando na novelização sem conseguir criar uma boa versão do personagem Justiceiro tendo de dar um motivo palatável para o que ele faz bem, que infelizmente é matar.

O final, em vez de deixar um gancho para uma sequência, deixa aquele gosto de final xoxo de novela da Globo.

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