Não sei você, caro leitor, mas eu sou de um tempo, agora de vaga lembrança, onde os amantes de quadrinhos, super-heróis, filmes e séries de Ficção-Cientifica, os agora conhecidos como “Geeks”, outrara também chamados menos clamorosamente de “Nerds”, éramos marginalizados e tratados como estranhos pela grande maioria da população, fosse ela constituída de amigos, parentes, irmãos e principalmente pais. Compreendidos apenas por seus pares, obrigados a frequentar ambientes “undergrounds” muito antes da palavra se tornar popular, lugares no centro velho de São Paulo que já não existem mais.
Toda essa iniciação, meu caro leitor, para você que hoje curte tudo isso e é conhecido como uma pessoa, bem informada, “Cool”, ou algo assim, sem medo de ser feliz, sem embates com seus pais na hora de assistir um episódio de sua série preferida, sem stress desnecessário, sem traumas em sua vida.
Estamos nesse ano comemorando o aniversário de cinquenta anos de “Star Trek”, conhecida aqui também como Jornada nas Estrelas e apesar de podermos ver o novo filme da franquia, ressuscitada por J.J. Abrams, no que compete ao nosso distribuidor aqui no Brasil, não temos muito o que comemorar.
Não tivemos o lançamento em DVD ou Blu-ray das temporadas completas de Deep Space Nine ou Voyager. Apenas duas temporadas da primeira e apenas uma da segunda.
De Star Trek: The Next Generation, não saiu aqui à versão remasterizada lançada desde 2012 nos EUA. E oficialmente mais nada. Um grupo de fãs fez recentemente um evento em uma Biblioteca Pública em São Paulo que infelizmente, por compromissos profissionais, não pudemos acompanhar.
Após tudo isso, o nosso review sobre Star Trek: Beyond.
Na verdade, algo já estava errado quando a Paramount Pictures não fez o lançamento simultaneamente com os Estados Unidos. Isso em uma época em que os estúdios fazem as estreias mundiais antes para “sentir” a receptividade do público.
Como J.J. foi dirigir Star Wars contrataram outro para dar sequência a série nos cinemas, talvez por isso mesmo, o filme atual perdeu importância, já não era a principal produção do mais importante diretor da atualidade, então colocaram Justin Lin vindo da série “Fast and Furius”, antes era para ser Roberto Orci, mas algo aconteceu e acabou sendo substituído.
A primeira impressão que a produção me deu foi que o orçamento disponibilizado foi mais baixo que as duas anteriores (acabei confirmando via Wikipédia que realmente foi menor que as anteriores). E que não me pareceu um filme de Star Trek clássico, faltou alguma coisa. Outro gosto ruim foi à falta de empenho nos papéis de alguns atores, Zachary Quinto me pareceu muito “blasé” em seu papel de Spock, principalmente por que neste filme temos a homenagem ao “velho Spock” o ator Leonard Nimoy que faleceu recentemente.
Em contrapartida Karl Urban está ótimo como o Dr. Leonard Mc Coy, apesar de que o achei ativo ao extremo para um personagem que, tradicionalmente, não é muito afeito a esforços físicos.
Cris Pine também tem seus momentos, mas não foram tão brilhantes como nos filmes anteriores.
Joe Saldaña como Uhura me deu a impressão de ter envelhecido ou esqueceram a maquiagem da atriz, há cenas em que suas olheiras são evidentes. É uma personagem que teve bons momentos, embora poucos, e que neste roteiro foi mal aproveitada.
John Cho como Sulu também aparece pouco e mal aproveitado. Apesar da polêmica do personagem ser gay, o que pouco importa para os fãs.
Anton Yelchin, como Chekov, infelizmente um de seus últimos papéis, esteve excelente no personagem.
Sofia Boutella, como Jaylla, um dos destaques da produção, sua parceria com o Scott de Simon Pegg dos deu os melhores momentos do filme.
Idris Elba como o vilão Krall, toneladas de maquiagem fizeram desaparecer o ator que a meu ver fez um personagem razoável, mas as motivações dele só são mostradas no final do filme o que faz com que as razões só se tornem claras muito tarde, poderiam ter construído melhor o personagem. Além do que a aparência física nas primeiras aparições me lembraram do G’Kar vivido por Andreas Katsulas, da série Babylon 5, e que neste Star Trek não foi a única referência televisiva que temos.
Temos após a destruição precoce da Enterprise, desnecessário a meu ver, mas em contrapartida, tivemos a aparição da USS Franklin que em grande parte lembra a Enterprise NX-01, a nave da série do mesmo nome, de 2001, a última realizada para a televisão e infelizmente cancelada. Também da classe NX. Batizada de NX-326, também os uniformes que aparecem em vídeo nos registros de bordo da nave lembram bastante os da série de 2001.
Aos interessados, há na internet acaloradas discussões sobre quem veio antes a NX-326 USS Franklin ou a NX-01 Enterprise.
Enfim temos ainda mais uma homenagem ao final do filme para a tripulação e aos atores originais da antiga série onde, revirando um baú pertencente ao embaixador Spock, o “novo Spock” encontra uma foto da tripulação original clássica. Realmente achei um momento emocionante, mas infelizmente muito curto.
Mesmo assim apesar de ficar devendo em termos de um roteiro com maior profundidade, temos bons momentos; como a descoberta da USS Franklin por Scott, a luta para salvar a tripulação empreendida por Kirk, Jaylla, Spock e Mc Coy (os embates entre os dois foram semelhantes como eram na série clássica, momentos que pela velocidade imposta pelo roteiro foram mal aproveitados). As inúmeras piadas de Scott em relação ao teletransporte da Franklin, e finalmente o lançamento da Nave para empreender a perseguição ao vilão.
Justin Lee talvez acostumado a dirigir filmes de ação realizou um filme em um ritmo vertiginoso, muito diferente daquele indicado para um Star Trek, poderiam ter utilizado um diretor, digamos menos ”Fast”.
Caso façam um próximo (coisa que sinceramente eu duvido) experimentem outro diretor alguém que nos permita entender o que está se passando com mais calma.
Não acho que para os cinquenta anos de Star Trek não foi o melhor filme, nos resta aguardar a nova série, para quem sabe possamos comemorar.